sexta-feira, 4 de julho de 2008

A Terapêutica do Suspiro

Minha alma tem assado
Muito suspiro e tristeza.
Por muito que tenho amado
Só vêm suspiros à mesa.

Feitos de clara e de sonho
E do açúcar da fantasia.
Nestes suspiros eu ponho
A ilusão de cada dia.

Tantos suspiros produz
Meu coração todo dia
Que um negócio me seduz:
ter uma confeitaria.

Um nome nela eu vou pôr:
"Quem espera sempre alcança"
E mais: "suspiros de dor
E suspiros de esperança".

O Balconista, treinado,
Vai dizer: "tenho certeza
Suspiro bem suspirado
Faz ir embora a tristeza".

E para enganos de amor
Ou amor contrariado
Não há remédio melhor
Do que suspiro dobrado.

A hepatite, até agora,
Era doença fatal
E muitos foram embora
Levados por esse mal.

Outros minguavam na cama,
Nunca mais vestiam terno
E faziam do pijama
Um iniforme eterno.

Verde e amarelo era a cor
Dos que sofriam do mal,
Como se fosse homenagem
Ao pavilhão nacional.

Mas um dia eu ganhei,
Para ajudar o apetite,
Uma lata de suspiros
E sarei da hepatite!

Milagre disse o doutor
Você estava indo a pique.
Milagre, não, por favor,
Foram os suspiros da Vicky.

Suspiro cura doença?
Eu não vou nesse caminho...
Eu disse: não há o que vença
Quando feitos com carinho.

Com bom açúcar da vida,
Mais forno no ponto médio,
Além da clara batida,
É a receita do remédio.

É a ciência vencida!
Disse o doutor oprimido.
Eu disse: mas, nesta vida,
A ciência é ser querido.

O afeto e a amizade
Fazem milagres também.
Além de fabricar saudade
Outros papéis eles têm.

Disse o doutor, de finório,
Ainda que vencido fique,
Vou levar p'ro consultório
Estes suspiros da Vicky.

E informar à Academia
A minha grande surpresa,
Pois suspiro parecia
Uma mera sobremesa.

A ciência desconhece,
Isto é coisa que me intriga,
Suspiro sem amizade
Provoca dor de barriga.
(Marcus Pereira)

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